domingo, 25 de maio de 2008

O pequeno ninguém na terra da soneca



















Little Nemo in Slumberland é um daqueles consensos que os jovens leitores têm dificuldade para entender. A maioria dos criadores de quadrinhos, principalmente os que passaram dos seus 50 anos, sempre citam o personagem como uma importante influência. A razão disso vai muito além do fato da tira ser uma das precursoras dos quadrinhos: está ligada à qualidade excepcional do material, principalmente o desenho, que ainda hoje pode ser considerado uma excelência em traço.

O personagem surgiu em 1905, no The New York Herald, criado por Winsor McCay, que na época já trabalhava com outras tiras do jornal e tinha começado uma série com aventuras noturnas de temática adulta, da onde surgiu a idéia de Nemo.

As tiras eram sobre um pequeno garoto, Nemo (que em Latim significa ninguém), que viajava por um fantástico mundo de sonhos, sempre acordando no final da página encerrando sua aventura. O visual de Nemo foi baseado no filho de McCay, Robert, e foi totalmente desenhada no estilo único da Art Nouveau.

Engana-se quem imagina que essas histórias eram somente para crianças. As aventuras de Nemo em seus sonhos eram agitadas, perigosas, surreais e, algumas vezes, até violentas, o que levava o pequeno a acordar no último quadro muitas vezes gritando na companhia dos pais ou de seus avós preocupados.

Nemo passava por todos esses apuros para chegar ao reino de Slumberland, onde deveria encontrar o rei Morpheus e ser coroado amigo da Princesa. Contudo, suas aventuras eram constantemente interrompidas por Flip, o filho do Sol e neto do Alvorecer, que usava um chapéu escrito “Wake Up”. Bastava Nemo vê-lo para acordar. Outros personagens freqüentes da série eram Dr Pill, The Imp, Candy Kid e Santa Claus (Papai Noel), um dos personagens mais divulgados naquela época, graças aos esforços de ilustradores como Joseph Christian Leyendecker, criador da versão clássica (um senhor gordo e vestido em vermelho), e Norman Rockwell.

A popularidade de Little Nemo cresceu rapidamente e logo o personagem passou a endossar outros produtos, como roupas, brinquedos, cartões postais, livros e jogos. Em 1908, Victor Herbert escreveu uma peça de teatro apresentada na Broadway com Nemo como protagonista. O garoto ainda ganharia uma animação feita pelo próprio Winsor McCay, um pioneiro na área. Esse filme tornou Little Nemo o primeiro personagem de quadrinhos a ser adaptado como animação para o cinema.

McCay deixou o The New York Herald em 1911, indo para o San Francisco Examiner e outros jornais de William Randolph Hearst, onde continuou publicando as aventuras do personagem na série de tiras In the Land of Wonderful Dreams. O material foi publicado até 1914, quando Winsor foi retirado da seção de quadrinhos pelo seu editor. Nos anos vinte ele ainda publicou o personagem por mais alguns anos, mas encerrou definitivamente em 1927.

Após a morte de McCay, em 1937, seu filho, Robert McCay, tentou reviver as tiras na década de 30 e depois em 1947, quando o personagem apareceu pela última vez nos jornais.

O material não foi esquecido. Em 1966 ele fez parte de uma mostra dos trabalhos de McCay no New York's Metropolitan Museum of Art, uma das poucas exibições dedicadas exclusivamente à um cartunista.


A editora Fantagraphics Books republicou, entre 1989 e 1993, o material clássico de Little Nemo em uma edição em seis volumes. Esses livros foram tidos como a versão definitiva da série, até que, em 2005, o colecionador Peter Maresca apresentou sua republicação pela editora Sunday Press.

Essa coletânea chamada Little Nemo in Slumberland: So Many Splendid Sundays! foi impressa no formato 53,3 cm por 40,6 cm, reproduzindo as páginas de jornal no tamanho que eram impressas na época de sua publicações. Essa republicação foi um verdadeiro trabalho de amor de Maresca que bancou a edição e acompanhou todo o processo de impressão para garantir que as cores ficassem como as das publicações originais dos jornais.

Hove interesse? Então junte seus trocados: a edição completa custa US$ 150,00, e está toda em Inglês. É provável que a edição em língua portuguesa venha por aí, já que a editora Conrad tem apreço por essa literatura e publica material semelhante com regular freqüência. Só ainda inexistem as garantias de um projeto futuro para o pequeno Nemo.
Apesar dos obstáculos comerciais, vale a pena.











sábado, 24 de maio de 2008

Filosofia



























terça-feira, 6 de maio de 2008

{2}

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.



Pablo Neruda

segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Ora (direis) ouvir estrelas!'' (#)


Acima, no céu, o aspecto noturno do Universo me encanta.
Nos tempos antigos, homens quiseram decifrar as jóias do espaço. As ditosas Constelações mitológicas. Ursa Maior; Cinturão de Órion... Outros mais detiveram-se na descoberta dos “prólogos do futuro”. E aí se foram os anos, os homens... somente a tela escura restou. Essa indiscrição com os astros medram aquilo que parece ser nosso desejo ardente ante à vida; a impressão de nossa inferioridade vital vigiada por forças maiores, invisíveis. "Aquilo tudo é casulo, feito para nos defender". Assim, naquele final de noite sabatina e início de uma nova manhã dominical, tive imensa vontade de contar estrelas e descobrir o céu. Esqueci um pouco o tempo, os porquês, e detive-me na ação. Pus um simples caderno azul, de páginas borradas e amarelas, entre os punhos, e, apertando uma pequena caneta azul entre o dedos polegar e indicador da mão direta, iniciei o meu processo de cartografia dos céus. Desenho após desenho, logo enxerguei, em frente ao portão, 45º a Leste do referencial domiciliar do quintal, uma borboleta. Desnecessário esforço de recursos imaginários, estavam lá, sinal por sinal, asas de estrelas azuladas pulsantes e a parte ao centro do encantador inseto invadida pela força maior de uma estrela amarela. Meus olhos mexeram rapidamente, ansiosos por captar as posições, traçar linhas no caderninho borrado. Melhor ainda quando uma imensa pipa de quatro cores me achou a sete passos do portão. A principal era em tons amarelos, e seguida nas laterais direita e esquerda por brilhos azul e branco; uma última estrela fez-se inigualável, na ponta extrema inferior: grande, na textura vermelha. Talvez, um planeta.
A penúltima aparição era como um aviãozinho de papel. Este era todo azul. Bastaria retornar à frente da minha casa, olhar 45 graus a Oeste e buscar o azulado mais presente no céu; era essa estrela a primeira, seguida de outras quatro em tamanho menor, todas iguaizinhas, porém, com jeitinho particular, faziam mais barulho, pulsavam. Olhos e ouvidos compartilhavam de uma única sensação de um pulso cardíaco. Tudo era só coração.
Assim, após horas, fui vencido pelo cansaço. No último fôlego e sede, ampliei o meu foco, constatando que a ''constelação da borboleta'' estivera o tempo todo mergulhada num mistério fantástico. Segui os passos daquela fuga, saltei os olhos. Saltei... saltei... saltei. Com os braços fiz abraços pelo ar e juntei a bifurcação final com as palmas das mãos. Achei um pentágono... como espécie de centro estelar e bastante semelhante à fronte de um ser venenoso. Por fim, voltando às asas da borboleta, ali me aguardava a enorme cauda.
O segredo envolto em sombras.

A poderosa Naja entre a hipnótica revelação astral.

Sinais... eu custo a entender. Mas a noite cor de prata, infantil e ingênua, junto ao céu, de anil tocante e claro... das faces desenhadas nas nuvens... do apaixonado crepúsculo... e do alaranjado Outono nas manhãs de Maio... gentis e afáveis, contaram-me um segredo: tudo é quanto é necessário ser.

Horizonte incerto me iluminou com a luz do Sol.