quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Adaptado

... Tudo isso me lembrou uma comédia juvenil: os caras passavam pela Holanda e inventavam de entrar numa doceria (algo do tipo) pra experimentar o bolo de haxixe. Um garçon traz bolo e eles devoram tudo. Começam a rir sem parar e se perguntam "por que eu tô sentindo tanto calor? eu não consigo parar de rir!".
Um cara se levanta e começa a dizer: - O que você colocou nesse bolo, cara?! Eu tô doidão! HAHA.
O garçon estranha, pergunta se está tudo bem e responde:
- Nós não servimos esse tipo de bolo. Aqui é um restaurante comum.

Aí eu pensei:
- Cara, pois é... tem gente que viaja sozinha mesmo. Nem precisa de ajuda.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

1° dia


Repetidas vezes, a cada quatro jornadas, girando dentro do espaço retangular de um calendário... segundas, terças, quartas... sextas-feiras santas, profanas... dias de sábado, domingo. Poderia ter sido, pelo menos uma vez, diferente, mas as coisas se movem para uma possibilidade igual. Os dias de domingo nunca foram meus preferidos. Odiava todo aquele calor que um dia de domingo parece exalar. Isso me deixava tonto. Dias perdidos, dias em que se vê o sangue jorrar, enquanto se espera a descontinuidade de seu fluxo. Um chumaço de algodão queimado entre as narinas, a respiração sem força... olhos e boca bem arregalados... a cabeça inclinada para o alto, toques leves das pontas dos pés no chão frio, traçando o caminho de chegada e saída... o som que se sente como o do curso de uma correnteza e a sensação viva de um líquido viscoso, rubro e metálico a invadir toda a sua língua.
As coisas acontecendo num espaço curto e monótono de tempo, enquanto você tenta estancar a morte que caminha por entre os dedos, pingando gotas da metade da outra metade de sua vida. As dores fortes que tomam todo o seu cérebro, a preencher os lados, a fronte, os cantos inferiores dos olhos... ferindo-lhe a boca seca com calor infernal.
"Malditos! Malditos, todos vocês!".
Completamente tomado de ânimo, cheiro e sabor de metal. Quando o medo escapava de mim, eu me erguia sozinho e jogava fora os pedacinhos de algodão, olhava bem a minha imagem frente ao espelho e depois seguia para qualquer lugar. Às vezes era melhor sentar em um pequeno tijolo e conversar sozinho; às vezes era bom correr um pouco.
"Nada de fumaça, muito menos alimentos gelados. Comida sem qualquer aditivo... corante, emulsificante... extasiante... alucinante.
"Fique longe do frio e se distancie do calor. Use panos mornos".
Sobrevivência no mini-universo da incompleta realização.
Nada de hoje é diferente do que foi, porque simplesmente sempre foi. Não existiram etapas, muito menos fases. Na vida, tudo foi algo único. As pessoas se aproximaram, se afastaram, foi criada uma ligação vital... depois houve dependência e também um pouco de tristeza. Sem que pudesse perceber como aconteceu, eu estava novamente numa outra roda... cultivando afeto, trocando olhares, canalizando o animado uso do meu tempo. O meu único problema, imagino, é que eu estava preparado antes de me dizerem adeus. As pessoas... não as odeio, mas acredito que não as amo. "Amor é uma palavra muito forte" ... e pode ser que o mesmo amor que se sente te distancie daquilo que você espera aproximar. As pessoas que tanto amamos, de uma maneira pouco compreensível, tenderão a se mostrar magoadas, receosas... talvez por já terem vivido o mesmo que nós. Mas a realidade se transforma completamente (espera-se que sim).
"Por que você foi me amar? "Por favor... esqueça".
Não se consegue parar de pensar em tolices. E pensamentos ruins não descansam.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Aos queridos leitores

Algumas coisas foram apagadas para que dessem espaço a outras. Nem tudo que escrevi e aqui foi colocado era parte de um acontecimento real, porque eu sempre espero que todos vocês, leitores, tenham um pouco de imaginação. Por favor, se por acaso tiveram a nítida sensação de que fosse assim, peço que me desculpem. Não faço isso por maldade. Talvez seja só uma técnica involuntária do meu processo criativo, ou eu realmente tenho lábia pra transformar um tanto de assuntos perdidos em uma coisa inteligente e lúcida.
Convencer as pessoas de que uma fantasia é "real" até onde se possa sugerir não é nada fácil. "Pontos pra mim". Porém, talvez seja mais difícil ainda convencê-las do contrário. As pessoas necessitam de um pouco de sonho, o tempo todo, daí uma dependência quase química de se acostumar a "voar alto".
Mas fantasias não têm asas, nem sequer voam.


Vez ou outra, eu continuarei publicando. O estoque de lembranças infantis acabou. Eu agora quero escrever mais, sem paradas para respirar ou pensar direito. É isso.

Obrigado pela gentileza e atenção. Nos encontraremos, em breve.



Notas: 1. A entrevista para o Papo Furado foi apagada, não porque não tivesse acontecido, mas porque houve uma escolha por colocar futuramente a entrevista definitiva, a que foi escolhida (esqueci de mencionar que foram 5 sessões). A postagem era fruto de uma gravação;
2. As outras postagens, mais precisamente as de música, foram apagadas porque, definitivamente, não pretendo perder meu repertório de curiosidades já guardados para a revista em que estou trabalhando nos últimos tempos. Assim, ficarão sempre neste espaço contos, observações diárias ou opiniões diversas a respeito de tudo, menos música. Quando houver a possibilidade de repassar o que escrevi sobre o tema música, deixarei uma postagem;
3. As outras coisas, as que se referiam a imagem... bem, eu repensei: não quero deixar isso aqui tão solto. Gosto de colocar imagens, mas aquelas todas, naquele número, tomavam bastante espaço e dificultavam, vez por outra, a leitura completa do Lápis. O que sobrou é meu mimo (Nemo e Filosofia).

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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Natural

Todos os olhares se voltavam para o chão, enquanto eu passava no corredor principal. O lugar sujo de branco, cinza e azul; uma mistura psicodélica de tons agressivos e angustiante temperatura quente. Naquele mundinho, pensar em respirar era sinônimo de morte. Homens e mulheres sem nenhuma disposição passeavam para todos os lados. Nos rostos, a junção de mil noites mal dormidas, angústia e ódio.
Cada personagem novo que por ali passava naquela hora da manhã segurava firme suas bolsas e livros de todos os tamanhos e formas, aparentando preocupação com seus assuntos particulares. Não era o momento oportuno para se dizer "bom-dia"; nenhum deles saberia responder. Por alguns instantes eu me preocupei em não estar ocupado com nada. Dei uma volta nos outros espaços do prédio, averigüei horários e compromissos... depois me sentei em qualquer cantinho e esperei a passagem do tempo. Avistei mais duas ou três pessoas desconhecidas que comigo compartilharam um profundo tédio. Logo depois, decidi levantar e sair de lá. Fiquei encostado na parede que dava para o segundo portão interno, com um dos meus joelhos dobrado e o rosto voltado para o céu. Eu podia ver quatro nuvens, e uma delas tinha o formato parecido com o de um cão. O restante estava muito difícil de identificar, então desisti.
Cerca de cinco minutos mais tarde, senti alguém se aproximar de mim. Era alguém que reparava muito bem a minha atividade estúpida. Pelo canto inferior dos olhos notei que estava a fazer tímidos sinais com as mãos. Custaria pouco de minha vontade para vê-la sorrindo, mas optei por fingir não ter algum interesse ou curiosidade em lhe falar. Eu senti que sua boca começava a se abrir para me dizer algo, enquanto se aproximava. Tinha uma aparência de contentamento, surpresa, timidez e receio.
-O que vai ser?- pensei -"Olá", "Oi", "Ei", "É..."?
O que veio a soar nos meus ouvidos não foi nenhum monossílabo da costumeira comunicação entre estranhos. Ela me disse duas palavras, em total sinal de afeto e gentileza:
-Como vai?
Pôs um dos braços por cima do meu ombro, esticou-se um pouco em cima de mim e me deu um beijinho no rosto. Depois, com os dentes, beliscou de leve minha orelha, de um modo que me causou arrepios. Ela me puxou a ponta da orelha como se não tivesse ninguém por perto, como se fossemos íntimos de longa data. Pude até mesmo sentir o calor de sua respiração ofegante e a sua língua me tocar enquanto me mordia silenciosamente. Permaneci imóvel, chocado, e continuei a observar as nuvens. Antes que eu tomasse coragem e lhe desse uma resposta, já a enxergava bem longe de mim, caminhando vagarosamente, olhando bem nos meus olhos em todo esse tempo, ao passo que se afastava cada vez mais. Mostrou-me outro sorriso zombeteiro, e terminou por dizer:
-Olha, aquela ali bem na ponta parece um cão... Não é?!
-Eu também acho - respondi feliz e tímido, em agradecimento.
Voltei os olhos para cima e, em seguida, de volta para o corredor. A garota já havia sumido.