segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Ora (direis) ouvir estrelas!'' (#)


Acima, no céu, o aspecto noturno do Universo me encanta.
Nos tempos antigos, homens quiseram decifrar as jóias do espaço. As ditosas Constelações mitológicas. Ursa Maior; Cinturão de Órion... Outros mais detiveram-se na descoberta dos “prólogos do futuro”. E aí se foram os anos, os homens... somente a tela escura restou. Essa indiscrição com os astros medram aquilo que parece ser nosso desejo ardente ante à vida; a impressão de nossa inferioridade vital vigiada por forças maiores, invisíveis. "Aquilo tudo é casulo, feito para nos defender". Assim, naquele final de noite sabatina e início de uma nova manhã dominical, tive imensa vontade de contar estrelas e descobrir o céu. Esqueci um pouco o tempo, os porquês, e detive-me na ação. Pus um simples caderno azul, de páginas borradas e amarelas, entre os punhos, e, apertando uma pequena caneta azul entre o dedos polegar e indicador da mão direta, iniciei o meu processo de cartografia dos céus. Desenho após desenho, logo enxerguei, em frente ao portão, 45º a Leste do referencial domiciliar do quintal, uma borboleta. Desnecessário esforço de recursos imaginários, estavam lá, sinal por sinal, asas de estrelas azuladas pulsantes e a parte ao centro do encantador inseto invadida pela força maior de uma estrela amarela. Meus olhos mexeram rapidamente, ansiosos por captar as posições, traçar linhas no caderninho borrado. Melhor ainda quando uma imensa pipa de quatro cores me achou a sete passos do portão. A principal era em tons amarelos, e seguida nas laterais direita e esquerda por brilhos azul e branco; uma última estrela fez-se inigualável, na ponta extrema inferior: grande, na textura vermelha. Talvez, um planeta.
A penúltima aparição era como um aviãozinho de papel. Este era todo azul. Bastaria retornar à frente da minha casa, olhar 45 graus a Oeste e buscar o azulado mais presente no céu; era essa estrela a primeira, seguida de outras quatro em tamanho menor, todas iguaizinhas, porém, com jeitinho particular, faziam mais barulho, pulsavam. Olhos e ouvidos compartilhavam de uma única sensação de um pulso cardíaco. Tudo era só coração.
Assim, após horas, fui vencido pelo cansaço. No último fôlego e sede, ampliei o meu foco, constatando que a ''constelação da borboleta'' estivera o tempo todo mergulhada num mistério fantástico. Segui os passos daquela fuga, saltei os olhos. Saltei... saltei... saltei. Com os braços fiz abraços pelo ar e juntei a bifurcação final com as palmas das mãos. Achei um pentágono... como espécie de centro estelar e bastante semelhante à fronte de um ser venenoso. Por fim, voltando às asas da borboleta, ali me aguardava a enorme cauda.
O segredo envolto em sombras.

A poderosa Naja entre a hipnótica revelação astral.

Sinais... eu custo a entender. Mas a noite cor de prata, infantil e ingênua, junto ao céu, de anil tocante e claro... das faces desenhadas nas nuvens... do apaixonado crepúsculo... e do alaranjado Outono nas manhãs de Maio... gentis e afáveis, contaram-me um segredo: tudo é quanto é necessário ser.

Horizonte incerto me iluminou com a luz do Sol.

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