quarta-feira, 20 de agosto de 2008

1° dia


Repetidas vezes, a cada quatro jornadas, girando dentro do espaço retangular de um calendário... segundas, terças, quartas... sextas-feiras santas, profanas... dias de sábado, domingo. Poderia ter sido, pelo menos uma vez, diferente, mas as coisas se movem para uma possibilidade igual. Os dias de domingo nunca foram meus preferidos. Odiava todo aquele calor que um dia de domingo parece exalar. Isso me deixava tonto. Dias perdidos, dias em que se vê o sangue jorrar, enquanto se espera a descontinuidade de seu fluxo. Um chumaço de algodão queimado entre as narinas, a respiração sem força... olhos e boca bem arregalados... a cabeça inclinada para o alto, toques leves das pontas dos pés no chão frio, traçando o caminho de chegada e saída... o som que se sente como o do curso de uma correnteza e a sensação viva de um líquido viscoso, rubro e metálico a invadir toda a sua língua.
As coisas acontecendo num espaço curto e monótono de tempo, enquanto você tenta estancar a morte que caminha por entre os dedos, pingando gotas da metade da outra metade de sua vida. As dores fortes que tomam todo o seu cérebro, a preencher os lados, a fronte, os cantos inferiores dos olhos... ferindo-lhe a boca seca com calor infernal.
"Malditos! Malditos, todos vocês!".
Completamente tomado de ânimo, cheiro e sabor de metal. Quando o medo escapava de mim, eu me erguia sozinho e jogava fora os pedacinhos de algodão, olhava bem a minha imagem frente ao espelho e depois seguia para qualquer lugar. Às vezes era melhor sentar em um pequeno tijolo e conversar sozinho; às vezes era bom correr um pouco.
"Nada de fumaça, muito menos alimentos gelados. Comida sem qualquer aditivo... corante, emulsificante... extasiante... alucinante.
"Fique longe do frio e se distancie do calor. Use panos mornos".
Sobrevivência no mini-universo da incompleta realização.
Nada de hoje é diferente do que foi, porque simplesmente sempre foi. Não existiram etapas, muito menos fases. Na vida, tudo foi algo único. As pessoas se aproximaram, se afastaram, foi criada uma ligação vital... depois houve dependência e também um pouco de tristeza. Sem que pudesse perceber como aconteceu, eu estava novamente numa outra roda... cultivando afeto, trocando olhares, canalizando o animado uso do meu tempo. O meu único problema, imagino, é que eu estava preparado antes de me dizerem adeus. As pessoas... não as odeio, mas acredito que não as amo. "Amor é uma palavra muito forte" ... e pode ser que o mesmo amor que se sente te distancie daquilo que você espera aproximar. As pessoas que tanto amamos, de uma maneira pouco compreensível, tenderão a se mostrar magoadas, receosas... talvez por já terem vivido o mesmo que nós. Mas a realidade se transforma completamente (espera-se que sim).
"Por que você foi me amar? "Por favor... esqueça".
Não se consegue parar de pensar em tolices. E pensamentos ruins não descansam.

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